Mais de 1 milhão de pessoas no sul do Madagascar estão batalhando para conseguir o suficiente para comer. O país africano poderá ter a primeira situação de fome causada pela mudança climática, de acordo com o Programa Mundial de Alimentos, PMA. O Madagascar é a quarta maior ilha do mundo e tem um ecossistema único, com plantas e animais que não são encontrados em mais nenhuma outra parte do planeta. Geralmente, a temporada de secas vai de maio a outubro, e a de chuvas começa em novembro. Mas a mudança climática vem alterando este ciclo, afetando pequenos agricultores e seus vizinhos. Quem confirma é a porta-voz do PMA na capital do país, Antananarivo. Alice Rahmoun foi entrevistada pela ONU News e declarou: É claro que há menos chuva, então quando acontecem as primeiras chuvas, eles ficam com esperança e plantam algumas sementes. Mas um pouquinho de chuva não é uma temporada de chuvas apropriada. Segundo a representante do PMA, é possível afirmar que os impactos da mudança climática são cada vez mais fortes, as colheitas falham constantemente, e as pessoas não têm o que colher nem nada para renovar seus estoques de alimentos. Alice Rahmoun esteve recentemente no Madagascar, onde PMA e parceiros estão apoiando centenas de milhares de pessoas. Ela explica que o impacto da seca varia de lugar para lugar. Enquanto algumas comunidades não tem uma temporada apropriada de chuvas há 3 anos, a situação é bem pior em zonas a 100 km de distância. A especialista lembra de ter visto vilarejos com campos completamente secos e tomateiros “totalmente amarelados ou até mesmo marrons” devido à falta de água. Em algumas áreas as pessoas até conseguem plantar alguma coisa, mas não é nada fácil, então estão tentando plantar batata doce. Mas em outras regiões, absolutamente nada está crescendo agora, então as pessoas estão comendo gafanhotos para sobreviver, comendo frutas e folhas de cactos, afirma Rahmoun. A representante do PMA explica que as folhas de cacto geralmente servem para o gado e não são para consumo humano. A situação é ainda pior porque segundo ela, “até os cactos estão morrendo com a seca”. O peso desta situação para as famílias é muito perturbador. Alice Rahmoun declara que as pessoas já começaram a desenvolver mecanismos para sobreviver. Estão vendendo o próprio gado para ter dinheiro para comprar comida, sendo que deveriam poder obter comida da sua própria produção agrícola. Terrenos e até casas estão sendo vendidas. Há famílias que tiraram seus filhos das escolas, numa estratégia para conseguir atividades rentáveis onde as crianças possam estar envolvidas, explica a especialista do PMA. O PMA está colaborando com parceiros humanitários e com o governo do Madagascar para fornecer dois tipos de resposta à crise. Cerca de 700 mil pessoas estão recebendo ajuda alimentar, incluindo suplementos para prevenir a desnutrição. A segunda resposta é mais de longo prazo, com o objetivo de permitir que as comunidades estejam bem preparadas para responder aos choques climáticos, afirma Rahmoun. O PMA auxilia com canais de irrigação, reflorestamento e pequenos seguros para ajudar os agricultores quando perdem uma colheita, por exemplo. A agência da ONU também espera apoiar 1 milhão de pessoas até abril e para isso, busca US$ 70 milhões para financiar suas operações. Estamos também envolvendo mais parceiros para encontrar e financiar soluções para que as comunidades se adaptem aos desafios causados pela mudança climática. Daqui a uma semana, os líderes mundiais estarão reunidos em Glasgow, na Escócia, para a COP-26, a Conferência da ONU sobre Mudança Climática. Segundo o secretário-geral António Guterres, esta poderá ser a última chance de “mudar a corrente” para alinhar o planeta. A representante do PMA explica que a agência pretende usar a conferência para mudar o foco de resposta à crise para gestão de riscos. Segundo Alice Rahmoun, os países precisam estar preparados para os choques climáticos, e devem agir em conjunto para reduzir os impactos severos às pessoas mais vulneráveis, incluindo os moradores do sul de Madagáscar. A COP-26 é uma oportunidade de pedir aos governos e aos doadores para priorizarem o financiamento relacionado a programas de adaptação climática, e para ajudar os países a controlarem melhor os riscos, até mesmo em Madagascar, pois se nada for feito, a fome aumentará de forma exponencial nos próximos anos devido à mudança climática. E não apenas em Madagascar, mas em outros países, afirma Alice Rahmoun.
FONTE: NAÇÕES UNIDAS
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